Presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe sob suspeita de incoerência entre discurso e prática profissional

Presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe sob suspeita de incoerência entre discurso e prática profissional

A postura de José Helton Silva Monteiro, presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe (SINDIMED-SE), tem gerado polêmica dentro e fora da categoria médica. Ao mesmo tempo em que lidera a entidade e critica abertamente a contratação de médicos via Pessoa Jurídica (PJ) e Organizações Sociais, suas atividades profissionais revelam uma contradição difícil de ignorar.


Helton está afastado de suas funções como médico concursado da Prefeitura de Aracaju, recebendo salário integral para se dedicar 100% à atividade sindical, mas se aproveita dessa condição para faturar alto com sua empresa, a JHSM Serviços Médicos LTDA, que tem contratos com diferentes municípios, consórcios e unidades de saúde, utilizando exatamente o modelo que ele frequentemente condena.


Essa situação, para muitos, gera dúvidas sobre a coerência do líder sindical e coloca a ética de sua atuação em cheque, prejudicando a credibilidade do movimento sindical médico em Sergipe. Helton Monteiro é conhecido por sua postura incisiva na defesa da classe médica. Um dos principais focos de seu discurso é combater a precarização das condições de trabalho, com críticas severas ao modelo de contratação de médicos por PJ, que, segundo ele, retira direitos trabalhistas e precariza o vínculo da categoria com os contratantes.


No entanto, a atuação do "sindicalista" não se reflete de forma coerente em sua prática como profissional. A JHSM Serviços Médicos LTDA mantém contratos milionários com diversos municípios e consórcios por inexigibilidade, como no caso do CONIVALES (Consórcio Intermunicipal do Vale do São Francisco). Essa contratação, que não é ilegal – é o mesmo modelo utilizado pelas gestões que Helton critica abertamente enquanto presidente do SINDIMED-SE.
Entre 2022 e 2024, a empresa JHSM faturou R$ 469.442,09 apenas com contratos junto ao CONIVALES. Além disso, foi firmado um contrato de credenciamento no valor de R$ 1.272.000,00 com o consórcio.


A situação se torna ainda mais curiosa quando analisamos o histórico profissional e administrativo do presidente do SINDIMED-SE. Helton Monteiro, afastado das suas funções como médico concursado da Prefeitura de Aracaju, em regime de licença para atuação sindical, mantém ligações ativas no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES) com outras prefeituras e unidades de saúde.


Atualmente, de acordo com o CNES, Helton possui vínculos com: o Hospital Pedro Valadares, em Simão Dias (vínculo com o estado de Sergipe); Centro de Imagem, em Penedo-Alagoas (vínculo com município de Penedo/AL); além de atuar em Nossa Senhora das Dores (UPA 24H); Propriá (Clínica São Francisco – privado); e até como cooperado, no município de São Braz, em Alagoas.


Mesmo afastado de suas funções em Aracaju, ele segue faturando como empresário da saúde e mantendo a atuação em contratos especiais de credenciamento. Essa dupla atuação desperta indagações não apenas éticas, mas também profissionais, levantando a pergunta: Helton é sindicalista ou empresário?
Segundo especialistas em ética profissional, a coerência entre discurso e prática é fundamental para a credibilidade de qualquer líder sindical. A postura controversa de Helton Monteiro enfraquece a luta sindical médica e compromete a representação da categoria diante da opinião pública, especialmente quando seus negócios privados se beneficiam de práticas que ele combate publicamente.


A incoerência do presidente vai além dos contratos financeiros. Enquanto ele é o único membro da diretoria do sindicato completamente liberado de suas funções para se dedicar integralmente ao SINDIMED-SE, seus colegas enfrentam as dificuldades diárias em suas escalas de trabalho.


A polêmica envolvendo o presidente do SINDIMED-SE escancara a necessidade de uma maior transparência e de uma postura ética mais rigorosa por parte dos representantes da classe médica. Para muitos, o caminho mais adequado para preservar a integridade do movimento sindical seria questionar e investigar formalmente a atuação de Helton Monteiro como empresário e sindicalista.


Uma eventual renovação de liderança, capitaneada por um nome mais alinhado com os princípios de coerência ética e compromisso com a categoria, pode ser um passo necessário para restabelecer a confiança da classe médica no sindicato. Afinal, os sindicatos têm o papel de representar, unir e lutar pelos direitos dos trabalhadores, algo que exige mais do que palavras: exige exemplos e práticas consistentes.